segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Quem somos ou "The bigger picture"

Quando olho para o meu percurso de vida e me pergunto “Quem sou realmente”, irrita-me que a resposta derive, quase sempre, para o que fiz / faço em termos profissionais.
Sermos aquilo que fazemos, implica que nos reconheçam, infalivelmente, como bem ou mal sucedidos. De preferência, BEM SUCEDIDOS, caso contrário passamos a "não entidades", e não há Curriculum Vitae que nos valha.
Se reduzimos o Ser áquilo que fazemos profissionalmente, ficamos presos a um Conteúdo que nos limita a Forma. Ironicamente, é o monge que faz o hábito, e não o inverso, e pouca folga nos é deixada para podermos mudar rapidamente!
Então o que acontece quando, por força das circunstâncias, deixamos de fazer o que fizemos durante anos, e somos mesmo obrigados a mudar?
Simples! A FORMA QUE NOS ENFORMA, DESFORMATA!
Agostinho da Silva dizia, criticamente, que tanto nos esforçamos pela especialização que perdemos a capacidade de fazermos muitas coisas diferentes, e, como resultado, perdemos progressivamente a visão de conjunto do que somos: diversos, múltiplos em recursos, criativos, contradictórios.
Resumindo, a especialização, sobretudo profissional, faz-nos perder o norte ou, se preferirmos, a noção de conjunto, “the Bigger Picture”, porque nos focámos demasiado tempo no mesmo ponto.
Aproveitando então as circunstâncias, há que mudar o rumo do percurso e assumir a mudança como necessária, vital, como factor de sobrevivência. Fácil dizer! Porém porque me é tão difícil reorientar-me, melhor, reprogramar-me?
Admiro quem se reinventa constantemente, quem se livra rapidamente da pele antiga e veste a nova, qual camaleão em total sintonia com o meio que o rodeia. Admiro a capacidade de desapego, a adesão fácil a novos paradigmas e novos ritmos, sem crises de identidade, sem dor ou receio.
Parece-me que caí na conversa frouxa de "velho do Restelo", de "cota" que resiste à mudança, porque esta implica sair da sua zona de conforto! É mais fácil carpir e chover no molhado do que virar a esquina de vez! Mas não é o caso. Disparo em várias direcções, numa procura incansável e solitária de um novo rumo. Dou comigo amiúde em becos sem saída e muitas vezes, quase por vício ou por necessidade de falsa segurança, ainda tento o rumo antigo.
A incerteza domina-me de novo: Quem sou? Do caminho pela frente a percorrer, pergunto-me: para onde vou então?
“ Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas – que já têm a forma do nosso corpo – e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares… É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.” (Fernando Pessoa)

1 comentário:

  1. Querida amiga, o que posso dizer, GKSTO. Consigo ver-te como se estivesse do outro lado do espelho onde escreves estas palavras e consigo ver-me nas pavras que escreves. E sim, é importante que o trabalho nao tome conta de nós e nos faça míopes de nós.
    Obrigado por partilhares e espero que continues a escrever

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