Sermos aquilo que fazemos, implica que nos reconheçam,
infalivelmente, como bem ou mal sucedidos. De preferência, BEM SUCEDIDOS, caso
contrário passamos a "não entidades", e não há Curriculum Vitae que
nos valha.
Se reduzimos o Ser áquilo que fazemos profissionalmente,
ficamos presos a um Conteúdo que nos limita a Forma. Ironicamente, é o monge
que faz o hábito, e não o inverso, e pouca folga nos é deixada para podermos
mudar rapidamente!
Então o que acontece quando, por força das
circunstâncias, deixamos de fazer o que fizemos durante anos, e somos mesmo
obrigados a mudar?
Simples! A FORMA QUE NOS ENFORMA, DESFORMATA!
Agostinho da Silva dizia, criticamente, que
tanto nos esforçamos pela especialização que perdemos a capacidade de fazermos
muitas coisas diferentes, e, como resultado, perdemos progressivamente a visão
de conjunto do que somos: diversos, múltiplos em recursos, criativos, contradictórios.
Resumindo, a especialização, sobretudo profissional,
faz-nos perder o norte ou, se preferirmos, a noção de conjunto, “the Bigger
Picture”, porque nos focámos demasiado tempo no mesmo ponto.
Aproveitando então as circunstâncias, há que mudar o
rumo do percurso e assumir a mudança como necessária, vital, como factor de
sobrevivência. Fácil dizer! Porém porque me é tão difícil reorientar-me, melhor,
reprogramar-me?
Admiro quem se reinventa constantemente, quem se livra
rapidamente da pele antiga e veste a nova, qual camaleão em total sintonia com
o meio que o rodeia. Admiro a capacidade de desapego, a adesão fácil a novos
paradigmas e novos ritmos, sem crises de identidade, sem dor ou receio.
Parece-me que caí na conversa frouxa de "velho do
Restelo", de "cota" que resiste à mudança, porque esta implica
sair da sua zona de conforto! É mais fácil carpir e chover no molhado do que
virar a esquina de vez! Mas não é o caso. Disparo em várias direcções, numa
procura incansável e solitária de um novo rumo. Dou comigo amiúde em becos sem
saída e muitas vezes, quase por vício ou por necessidade de falsa segurança,
ainda tento o rumo antigo.
A incerteza domina-me de novo: Quem sou? Do caminho pela frente a percorrer, pergunto-me: para onde vou então?
“ Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas
usadas – que já têm a forma do nosso corpo – e esquecer os nossos caminhos que
nos levam sempre aos mesmos lugares… É o
tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem
de nós mesmos.” (Fernando Pessoa)
Querida amiga, o que posso dizer, GKSTO. Consigo ver-te como se estivesse do outro lado do espelho onde escreves estas palavras e consigo ver-me nas pavras que escreves. E sim, é importante que o trabalho nao tome conta de nós e nos faça míopes de nós.
ResponderEliminarObrigado por partilhares e espero que continues a escrever