sexta-feira, 26 de novembro de 2021

TINA - Never surrender!

 


"I'm still here. Good came out of bad, joy came out of paine and I've never been so completely happy as I am today."

Anna Mae Bullock diz-vos alguma coisa? 
Pois, é Tina Turner, "The Queen of Rock & Roll"!

Nascida nos EUA a 26 de novembro de 1939, no estado de Tennessee, Tina acabou de celebrar 82 anos, uma provecta idade que contem todo o peso de uma vida vivida nos extremos: do muito mau ao muito bom, em tudo!

Com uma carreira artística verdadeiramente eclética, destacou-se como cantora, compositora, dançarina, actriz e produtora de alguns dos seus próprios espectáculos. Não é de estranhar, portanto, que tenha sido - ainda é - a musa inspiradora de muita gente, e não apenas pelas suas competências artísticas. 

Ao longo da sua carreira de 50 anos, cantou com muitos dos maiores músicos de R&B - Mick Jagger, Bryan Adams, Eric Clapton, David Bowie, Eros Ramazzotti, Elton John e Cher, entre tantos outros. Esteve inúmeras vezes no Top One de vendas dos EUA e da Europa, vendeu mais de 20 milhões de discos de quase todos os grandes temas que compôs, fez incontáveis tournés e ganhou todos os prémios que havia para ganhar, várias vezes.

É respeitada pelos seus pares do agreste mundo do showbizz (para ser simpática), e admirada fora dele pela sua enorme coragem, resiliência e combatividade perante os incontáveis momentos de sofrimento físico e moral que marcaram a sua vida, desde criança até aos dias de hoje.

Tina, a "mulher furacão", nunca se rendeu! 

No que me toca, há uma palavra que a define: Superação
Continuo a ouvir com imenso prazer a sua voz inconfundível em inúmeras canções que compôs e que foram super êxitos. Surpreende-me, sempre, vê-la nas actuações ao vivo, exuberante, plena de energia contagiante, sempre a dançar, aguentando até ao fim, com mais de 70 anos, espectáculos de quase duas horas.

Teve uma vida extraordinária em todos os sentidos e uma capacidade de se reinventar difícil de igualar. 

Despois de ter visto estrear um espectáculo na Broadway sobre a sua vida em 2019, despediu-se do público este ano, através do documentário que gravou para a HBO - Tina - lançado em Março deste ano. 

"I'm a girl from a cotton field that pulled myself above the destruction and the mistakes...".




sexta-feira, 21 de maio de 2021

Efémera quimera

 

"Broken people get recycled"


Meu anti-heroí, ler-te doí-me,
a dor da felicidade por te ter, sem o saber, tão próximo, tão longe.

Pasmo pela tua sageza, pela tua incerteza,
correm-me as lágrimas pelo teu quinhão de desalento,
quantas vezes foi meu, sempre presente, sempre nefasto, bem mais gasto pelo tempo.

Ver-te assim, desnudado, transparente, expondo esse teu coração ansioso em grito pungente,
clamando pela esperança que acredito, virá.
Descobrir-te.
Tão jovem, com tanto mundo nos ombros.

Caminhas sobre passos teus, que foram, são, ainda meus e de outros que já cá não andam.
Passos, que se repetem, gastam, partem, permanecem, regressam num eterno e circular retorno.
Tu, nós, eles, todos no mesmo grito,
o da vida, promessa que se anuncia, nasce, cresce, se afirma, avança, esfuma, fenece e renasce.

Sonha sempre, atreve-te, acredita, 
por efémera que te pareça a quimera.

És!
Humilde, mas bem maior do que pensas.
Gravaste, singela, a tua pegada no hall of fame
prolongando Seres para além do tempo presente,
sabendo que existes,
sempre

apenas 
enquanto alguém ainda disser o teu nome.

Francisco!




* Há um jovem que muito me inspira e por quem sinto uma enorme admiração e orgulho, por tudo o que tem conquistado com tanta abnegação, espírito de sacrifício e resiliência. Tenho a enorme sorte e o prazer de fazer parte da sua vida. 

sábado, 13 de março de 2021

Se amanhã eu não estiver cá…

 

 

Se amanhã eu não estiver cá…


"Há dias em que não me é fácil saber que não chego para as encomendas, em que me questiono ser a mãe que precisas, em que fico com os nervos em franja e não tenho a calma suficiente para falar contigo, e fazer-te entender que apenas quero o melhor para ti. Que o teu bem é a minha maior felicidade e o motivo pelo qual eu vivo.

Às vezes, olho para ti e perco-me em pensamentos de como será que vês o mundo, e como encaixarás nele ao longo da tua vida. Não consigo evitar pensar na minha mãe, que me conhecia tão bem e que pressentia o tipo de mãe que um dia eu seria. Também ela, certamente, pensou vezes sem conta no meu futuro e no dos meus irmãos, principalmente quando soube que não iria estar aqui para nos acompanhar e fazer parte dele.

Filha, se amanhã eu não estiver, não quero saber se dobras o pijama ou se andas descalça no chão frio! Quero apenas saber que escolhes o caminho do bem, que respeitas as escolhas dos outros e não deixas que desrespeitem as tuas. Aceita as partidas da vida como experiências que te enriquecem, e ainda que chores, não te prendas a elas.

Voa o mais alto que possas lá fora mas, acima de tudo, voa dentro de ti. 
Encontra o silêncio da respiração e aprende a estar sozinha, porque é aí que a maior parte das respostas residem. Em ti.

Não optes pelo fácil só porque é fácil. Aquilo que fizeres, faz com dedicação e com amor, e ainda que por vezes pareça o contrário, a recompensa virá.

Ajuda quem podes e não fiques à espera que te ajudem, mas também não recuses a ajuda quando ela chegar. Fica atenta, porque há sempre alguém por perto merecedor do teu amor mas, também há quem não o mereça de todo. Aprende a distingui-los e não desperdices a tua energia.

A vida pode não ser nada daquilo que esperas dela, mas será sempre essa tua coragem, determinação e sentido de humor que te farão única, e que servirão de ferramentas para te adaptares áquilo que virá.

Filha, se amanhã eu não estiver cá para te dar a mão quando a vida apertar, lembra-te que ela é como o mar, com ondas intercaladas, ora de alegria ora de revolta. Por isso, nas ondas pesadas, respira fundo, mergulha e deixa-as passar.
Quando vieres à superfície, já tudo estará mais calmo!"





* Encontrei este texto que não vinha assinado. Penso que se trata de uma tradução, a que tive que fazer uma revisão e nalguns pontos fiz algumas pequenas alterações. Mas a base é a original. No meu entender, poderia ter sido escrito por qualquer Mãe, de qualquer país, em qualquer língua, porque, na essência, a mensagem que transmite é universal: o amor incondicional de uma Mãe por uma filha ou um filho. Dedico-o à minha filha.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Filhos de um Deus Maior!



Unknown from Facebook

É hoje o Dia da Mãe!
Uma festa para muitas! Pela presença, pela crença, pela alegria e alento, pela esperança.
Uma dor para outras! Pela ausência e saudade imensa, pela descrença, pela desesperança, pelo abandono e pela indiferença, por tantas razões de desalento!
Ter filhos, fazer filhos parece simples e corriqueiro: uma mulher e um homem unidos por um acto sexual, no momento certo de uma ovulação. E, já está! Será assim tão simples e tão corriqueiro? Então porque há quem não os tenha, por mais que tente? E porque há quem os tenha, por mais que não queira, e outras há que deles se desfazem, em gestos (só) aparentemente ligeiros, desapegados e inconsequentes?
Nascer, e Morrer são os momentos mais íntimos e solitários de um ser humano. Nascemos por vontade alheia e Morreremos, SEMPRE, contra a nossa vontade, todos unidos por este destino comum – até ver!  Mas Dar Vida é o ÚNICO ACTO EM QUE PODEMOS INTERCEDER OU NÃO e É PARA SEMPRE! IRREVOGAVEL!
Ao contrário de todas as outras espécies, desse acto, seja por acaso ou fruto de uma vontade explícita, temos consciência e, se não dele, das suas consequências. Dar vida é o nosso mais puro acto de egoísmo, seja qual for a justificação - impelidos pelos insondáveis desígnios da continuação da espécie, que nos estão gravados no ADN, pela vontade inconformada de prolongarmos o ser, de deixarmos aos vindouros a nossa marca e o testemunho de que por aqui passámos ou ainda, por amor ao parceiro.
E porém, ter um filho ou filhos é, são, mais do que genes que se fundem, dividem e multiplicam, ADN que se partilha e repercute! Filhos, são, TÊM QUE SER, fruto de mais do que uma simples “queca” que se dá e pronto, venha o que vier desde que saudável! E se não o for?
Filhos são, serão sempre, filhos! Saudáveis ou não, com 10 dedos certos nos pés e nas mãos, com Sindroma disto ou daquilo, génios hiperactivos, calmos, passivos, deprimidos, violentos, drogados ou, até felizes.
Quando olhamos para eles, recém-nascidos ou ao longo dos primeiros anos de vida, seres totalmente dependentes de nós, é impossível não realizarmos que são matéria plástica, que podemos moldá-los e condicioná-los a nosso belo prazer. Um filho pode ser muito do que fizermos e do que quisermos - salvo as excepções de doenças graves, congénitas ou adquiridas que não controlamos. Amamo-lo ou não, educamo-lo ou não mas, fruto destas variáveis, INFLUENCIAMO-LO em cada dia, paulatinamente, de forma indelével e duradoura.
Se projectarmos o seu futuro, ele será sempre, não no todo, mas em grande parte, fruto da nossa influência ou da nossa ausência, da tolerância ou da intransigência, do aconchego ou do abandono, do nosso amor ou desamor.
Mas para uma Mãe, para a maioria das Mães, um filho, seja único ou sejam vários, é sempre um filho ÚNICO, IRREPLICÁVEL,  INSUBSTITUÍVEL! Percebê-mo-lo? Se Somos ou Fomos Mães, percebemos.
A vida de uma Mulher é uma até ao dia em que é Mãe. A partir daí quase tudo muda: a vida passa a ser vista, planeada, sentida e pressentida, em suma, vivida de forma diversa. Tudo se transforma. Até ao fim dos seus dias, o filho condicionará o seu comportamento, as suas sensibilidades, as suas alegrias e preocupações, desejos, temores e esperanças. Nunca a sua vida voltará a ser, aos seus olhos, à flor da pele ou no seu intimo, igual ao antes daquela vida existir.
Tenha a idade que tiver, constitua família ou não, emigre para o extremo oposto do planeta, UM FILHO SERÁ SEMPRE UM FILHO. Umas lidarão melhor do que outras com a progressão do tempo, com a aceitação do crescimento, com a noção de posse e a reaprendizagem do desapego, com a liberdade e com a necessidade de libertação progressiva, com a responsabilidade e o medo da perda, com a crescente capacidade de partilha com terceiros... OU NÃO, arcando e sofrendo com as consequências dessas variáveis e dessas escolhas.
Mais do que ser Mãe, SENTIR-SE MÃE é algo visceral, latente e permanente. Manifeste-se cedo, ou mais tarde, seja-se nova e imatura, adulta e independente, madura e experiente, o elo é quase sempre para a vida, indizível.
SER Mãe é transcendência, e NÃO O SER, É AUSÊNCIA! SER MÃE PARECE BANAL, condição de SER NORMAL, porque faz parte de SER MULHER! E porém, há mulheres que não se sentem mães; e há Mães que se esqueceram de serem mulheres; e há MULHERES que por mais que o queiram, por mais que o tentem, não foram mães; outras há, que não geraram vida dentro dos seus corpos, mas SÃO MÃES DE CORAÇÃO!
Pelo que sou hoje, por tantas outras Mulheres que conheço, e mesmo pelas que desconheço mas que pressinto, vislumbro ou apenas imagino, sei, dentro de mim, que SER MÃE É O SUPREMO ACTO DE CRIAÇÃO!
Por tudo isto, quando uma Mulher perde um filho, mesmo que tenha outros, aquela perda é irrevogável, insubstituível, irreparável, arrasadora.
Hoje não tenho dúvidas: um filho é uma ABSOLUTA DÁDIVA! Um filho é esse ser que gerámos ou criámos, que nos transcende e que nos supera, que supostamente nos resistirá e nos prolongará. E seja ela/ele quem for, se existe um Deus, qualquer filho natural ou adoptado, é, será sempre, FILHO DE UM DEUS MAIOR!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

"Nunca te distraias da vida!"

 
 

Há poucos dias partiu desta vida, aos 50 anos, um homem que foi capaz de tocar fundo em muita gente. Era percepcionado das formas mais diversas: arrogante, agressivo, vaidoso, antipático OU fantástico, sedutor, brilhante, magnético! Controverso, irreverente, Amado e Odiado em simultâneo!

Era difícil, para quase toda a gente que com ele contactou, ficar indiferente ao magnetismo do seu olhar, ao sorriso matreiro, ao sentido positivo que emitia, fosse pelas palavras ou pela postura. Muitos ficavam fascinados, outros idolatravam-no, seguiam-lhe o percurso de vida, alguns tornaram-se seus amigos; outros ainda odiaram-no, denegriram-no, chegaram a ameaça-lo! Nada que ele não aprendesse a lidar rapidamente. 

MAIOR DO QUE A VIDA! 

Manuel Forjaz era isto tudo e muito mais! Não o conheci pessoalmente mas tive a sorte de assistir, há uns anos, a uma das suas conferências sobre “Empreendedorismo”. Bebi-lhe as palavras, não tanto por ser um orador fantástico, mas pela pertinência dos argumentos e pela convicção com que transmitia a mensagem. 

Percebi-o então como dono de uma personalidade fortíssima, senhor de uma vontade férrea e com uma natureza dominadora da qual emanava uma luz intensa, de tal forma a sua presença na sala ofuscava a de todos os outros. Presciente, inteligente, voluntarioso, teimoso, energético, dinâmico e extremamente criativo, era daqueles que fazia as coisas acontecerem, empurrava o mundo com a força da sua vontade e mudava-o, porque ousava o impensável. Lutou sem descanso por aquilo em que acreditou, e tinha a desarmante capacidade de transformar a adversidade em oportunidades. 

UM LÍDER! 

Manuel Forjaz era sem dúvida um líder carismático, detentor de uma inata capacidade de convencimento e de sedução. Consciente disso mesmo, usava a sua luz ofuscante para atrair os incautos que se deixavam "enfeitiçar" pelo tremendo sex-appeal que emana desse perfume inebriante que o poder de sedução confere.

Tudo nele parecia acontecer com facilidade, como que por magia. E no entanto, tal como qualquer ser humano, também se enganava, também fez escolhas e opções erradas e como consequência, arrastou outros que nele acreditavam para situações difíceis, e por ter falhado nalguns pontos do percurso, prejudicou e magoou pessoas. Não o fazemos todos nós ao longo do percurso das nossas vidas? 

O SENTIDO DA VIDA

Pediu desculpa a muitos dos que magoou, tentou retratar-se e reparar o mal feito perante os que prejudicou, porque acreditava que "O verdadeiro sentido da vida é sermos honestos connosco próprios e percebermos aquilo que nos faz felizes."

Acreditou na imensa criatividade do ser humano, em cada um de nós, e na capacidade de vencermos os escolhos, de irmos mais além. Era um Homem em constante questionamento e irritava-o sobremaneira a "mansidão" do aceitamento do óbvio, a normalização das vontades e dos sonhos, a submissão ao colectivo: "Se somos todos tão diversos porque queremos quase sempre as mesmas coisas, viajar, ser rico, ser poderoso, ter uma casa grande... porque não um curso de pintura no Louvre, ou conduzir um Ferrari, ir à lua, fazer um curso de costura na Dior, ou até ser taxista?" 

Sermos felizes todos de maneira diferente, ter liberdade e ter alternativas, fazer escolhas, ter dúvidas e abandonar as certezas, sofrer e superar o sofrimento porque há que seguir em frente, deixar o emprego se pudermos e procurar outro que nos faça mais felizes... tudo como resultado de uma aprendizagem permanente. 

MENSAGENS DE ESPERANÇA 

Viver é um estado de constante empreendimento, de procura da felicidade, de questionamento das certezas, um fazer e desfazer permanente; são momentos de profunda dor e de angustia, de luta, de esforço e de coragem, mas temos que acreditar na nossa capacidade de superação e que se hoje tropeçamos e caímos, amanhã seremos capazes de nos recuperarmos e de vencer, e acreditar que o dia de amanhã será melhor, muito melhor. Há que viver intensamente, captar a máxima energia de cada momento porque tudo é transitório, efémero, relativo e sem retorno. Por isso, A VIDA ESTÁ AÍ PARA SER VIVIDA, PLENAMENTE! 

A RETER

Não deixo que a doença me mate os dias! Posso morrer de cancro, mas o cancro não me vai matar!

Aproveitem bem a vida, não se queixem porque todo o sofrimento é relativo e a VIDA ESTÁ AÍ PARA SER VIVIDA!

O que quero fazer no tempo que tenho pela frente? Amar a minha família, estar com os meus amigos, estar com Deus, rir mais, fazer menos, aprofundar a transcendência, curtir o sol e este País fantástico, porque a VIDA É UMA DÁDIVA DIVINA E NÃO A PODEMOS DESPERDIÇAR NEM NOS DISTRAIRMOS DELA.  


Obrigada Manuel Forjaz!
https://www.youtube.com/watch?v=JbtXNMGRyF4https://www.youtube.com/watch?v=JbtXNMGRyF4http://www.youtube.com/watch?v=JbtXNMGRyF4&feature=player_detailpagehttp://www.youtube.com/watch?v=JbtXNMGRyF4&feature=player_detailpage

segunda-feira, 17 de março de 2014

There is magic in the air!

 
Judy Garland - Over the rainbow
 
Nunca vos aconteceu, ao observarem determinadas pessoas, perceberem que elas emitem uma certa luz e que esta está impregnada por uma côr ou por um tom específico e predominante?

Não? Então explico melhor esta ideia. Vivo, tal como quase toda a gente, rodeada por várias pessoas que no meu quotidiano desempenham diferentes papeis, e que de alguma forma contribuem, em maior ou em menor grau, para o meu equilíbrio e bem estar. Porém, algumas há que têm o condão especial de nos marcar, de nos influenciar, e até de nos mudar, de uma forma que muitas vezes só é percebida à posteriori.

Quando penso nelas, percebo que não importa tanto assim a duração do relacionamento estabelecido, mas sobretudo a intensidade do mesmo. Essas pessoas que deixam ou deixaram uma marca indelével na minha vida, são lidas através dessa côr predominante por mim percebida.

Óbviamente esta minha avaliação é uma leitura subjectiva do outro, e a intenção não é qualificá-las como melhores ou piores umas em relacção às outras. A descodificação do outro pela côr só me ajuda, no fundo, a perceber-me melhor.

A magia do pássaro beija-flôr

Há pessoas raras, pessoas que emitem uma luz dourada, quase mágica. Envolve-as uma ligeira poalha que se espalha por quem com elas contacta, atraindo-as, enfeitiçando-as, marcando-as, num minuto apenas ou para sempre.

Tenho a rara sorte - estou convicta - de conhecer dois desses belíssimos seres, tão diversos entre si, e porém, tão semelhantes. Com um deles convivi intensamente numa relação de amor eterno, muito desacordo, alguma revolta e muita partilha. Com o segundo convivo menos frequentemente, numa relação mais solta e galhofeira mas desde o início lhe pressenti essa força interior, única e exclusiva e reconheci-lhe as propriedades da magia de um beija-flôr.

Estranhamente ou talvez não (?) são ambos seres do sexo feminino mas mais do que isso, são intrinseca e verdadeiramente mulheres: sensíveis e inteligentes, ora festivas e travessas como crianças sem tino; ora ponderadas e responsaveis, como adultas convictas das suas escolhas; ora frágeis, angustiadas e depressivas, como adolescentes à procura do seu caminho; ora firmes e poderosas, porque Mães, que se afirmam como rochas inamovíveis perante filhos em crescimento turbulento; ora envolventes e sensuais, emanando o perfume quente da sua sexualidade subliminar, amantes fieis daqueles que elegeram como príncipes únicos e (con)sortes, por partilharem das suas vidas.

São contraditórias só na aparência porque consistentemente coerentes nos actos que praticam, e se por vezes são algo excessivas na defesa das suas convicções, não perdem nem o Norte nem a face, e acalmam os calores da refrega com uma piada ou uma gargalhada.  Têm um forte sentido de proteção da família e dos amigos mas têm horror ao protecionismo chatinho, ao abracinho queriduxo e ternurentuzinho e odeiam  meninos abafadinhos e cheios de birrinhas. Saiam de perto se virem uma sobrancelha arqueada e um sorrisinho mordaz ao cantinho da boca! 

Surpreende-me sempre o seu sentido de justiça e o tentarem manter-se como fieis de balança, apaziguadoras, pacificadoras de ambientes turbulentos, tantas vezes calando fundo as suas dores em prol da paz comum. Desengane-se porém quem as tome por pacifistas ou dóceis, porque não o são. Não há falinhas mansas nem cantigas do "bandido" que as embalem facilmente, porque a esse, já o toparam há muito, com a ajuda de um verdadeiro radar ultrasensível: um sexto sentido premonitório, a raiar o dramático, quase perigoso...  

São companheiras divertidas, senhoras de um sentido de humor fino e apurado com quem é um prazer conviver. Adoram festas e sobretudo máscaras de carnaval, onde exercitam toda a sua criatividade e se travestem de personagens mirabolantes, recriando tiques alheios, capazes de darem fôlego a caricaturas muito diversas e o mais opostas de si próprias. No quotidiano, porém, são algo reservadas e odeiam dar nas vistas! Vá-se lá perceber estas alminhas!!!

Estes seres são, obviamente, imperfeitos, e conscientes disso, não aspiram a uma grama de santidade, pelo contrário, as criaturas não se levam muito a sério, porque a vida é tão curta! Têm um sentido de humor apurado, irreverente, desarmante, quase enervante, e no entanto, são seriíssímas quando assumem compromissos de alma e coração, e sem os apregoarem, levam-nos a cabo sem contemplações!
 
Praticam o bem e exercem a sua generosidade de forma natural e sem alarde, junto de todos aqueles que elegem como protegidos - e são vários - sem esperarem por reconhecimento ou recompensa, apenas porque a sua consciência de seres humanos e de cristãs assim o dita.

Não são vulgares estas duas "pestinhas", longe disso, antes absolutamente especiais, admiraveis, indispensaveis na minha vida.
 
A primeira delas deixou-me, como herança, a sua marca na alma e nos genes. Para sempre! Mais de quarenta anos passados e com tanto mundo revirado, o que guardo é o seu riso fresco e solto, gargalhadas contagiantes que ecoam vivas na memória da infância, tempo mágico e frágil que preservo íntegro, incólume, das agruras do tempo gasto.
 
A segunda dá-me o privilégio da AMIZADE e da CONFIANÇA!
 
A ambas, deixo-lhes aqui o meu obrigada e um pedido:
 
enfernizem-me a vida MAS POUCO!
 
 

domingo, 2 de março de 2014

Flashes de um país raro e cheio de "tesourinhos deprimentes".


"Minha cara amiga, como tens passado? Querias notícias minhas e aqui vão.

Eu, João, profissional de marketing desempregado e actual dono de casa efectivo, deixo-te aqui o meu testemunho de participante numa experiência enriquecedora e inolvidável.

Há cerca de 15 dias iniciei um curso de formação, de caracter obrigatório, proporcionado pelo Centro de Emprego da região. Saí de casa pela fresquinha, sentindo na cara o friozinho cortante daquela manhã de inverno e fui apresentar-me no centro de formação.

Senti-me estranhamente satisfeito por sair de casa à hora a que tantos outros saem para o trabalho, tal como o fiz durante anos. A formação seria a partir dali o meu trabalho, e lá fui entusiasmado apresentar-me: 9 horas, sharp!

Comigo estavam outros 18 convocados(as) com idades variadas, na casa dos 40/60, todos desempregados, tal como eu. Fomo-nos sentando ordeiramente e em silêncio numa sala disposta em U, e quais alunos atinados e obedientes no seu 1º dia de escola, espiávamos desconfiados os parceiros pelo canto do olho enquanto aguardávamos pelo formador.

A receber-nos estava um indivíduo vestido com uma bata branca imaculada, o que me confundiu inicialmente - homem do talho não podia ser, estava demasiado limpo, parecia mais o tipo da farmácia ou até o enfermeiro do Centro de Saúde.

Ao fim de uns minutos e depois de distribuir impressos a cada um, apresentou-se como sendo o formador, que nos acompanharia ao longo de 150 horas, o equivalente a quase dois meses de aulas diárias, das 9h às 14h. De rajada, foi dizendo que o curso tinha como objectivo dotar os formandos de Competências Informáticas Básicas e que…

GELEI AGONIADO! Devia ter ouvido mal, só podia! Eu estava inscrito para um curso de Competências Informáticas Avançadas e produção de sites!!!

O trabalho escraviza...

Em segundos estava instalado o granel, com todos a falarem ao mesmo tempo, num bruuuaaaa ensurdecedor que se agravou quando o enfermeiro, perdão, o formador, caiu na asneira de perguntar: "alguém aqui tem alguma objeção em participar neste curso?" No segundo seguinte o pessoal da pesada arranjou logo motivo para a balda, cada qual mais hilariante que o anterior.

Eu, ainda mal refeito da surpresa, resisti a juntar-me ao coro de protestos, e civicamente abstive-me de qualquer comentário, mas pensei com os meus botões que ou o tipo era parvo de todo ou estava armado ao pingarelho.

Escusado será dizer que fiquei doutorado nos impedimentos de todos os outros, mas o mais interessante foi perceber que iria frequentar, sem apelo nem agravo, um curso para o qual não me inscrevi, e que o homem de bata branca, a quem os meus estimados colegas passaram a tratar por "setor", também não fazia ideia nenhuma porque raio estavam ali pessoas inscritas para um outro curso de formação?! "Amigos, isto é o que tem que ser, tanto para vocês como para mim e podem reclamar junto da entidade competente, mas aconselho-vos a não faltarem ao curso". E, como que para nos acalmar, SORRIU, um sorriso cândido e meigo, irresistível, que me comoveu profundamente!

Explicou então que a balda só era possível com justificação plausível, atestada por entidades competentes e credenciadas, e assim, depois de acenar com a cenoura deu com o pau na tola dos espertos, o desmancha-prazeres!

A formação liberta!

Mais divertido ainda foi observar que o grupo de formandos era composto por gente muito diversa, o que contribuiu para o enriquecimento sócio-cultural do conjunto: uns seis teriam formação média ou superior, outros tantos teriam a 4ª classe ou pouco mais, e os restantes mal sabiam ler e escrever, donde, conseguir que todos preenchessem uma simples folha com os dados pessoais, revelou-se uma tarefa árdua; havia também quem visse mal, como a minha companheira do lado que não imaginava que o seu cartão de cidadão contivesse dados diversos e não apenas o nº do BI, e que para além disso, de tão boazinha tinha emprestado a caneta ao vizinho do lado o que a impedia de preencher efectivamente o impresso, e numa voz maviosa, voltou-se para apelar à minha aparente generosidade: "já agora vizinho, preencha o meu impresso também, porque estou sem caneta, não percebo nada disto e vejo mal..."

Querida amiga, lembrei-me tanto de ti, porque a veia do pescoço inchou, quente de enervamento, espanto e falta de paciência. Pensei "isto não me está a acontecer" e contendo a minha fúria disse-lhe: oiça, eu ajudo-a a preencher o impresso mas será melhor pedir de volta a sua caneta, e talvez pondo os óculos já consiga ler, certo?

Claro que a minha vizinha não me achou graça nenhuma e soltou, num suspiro profundo, a frase que mais me animou: "estamos aqui para sermos uns para os outros e eu não percebo nada disto mas já vi que o menino percebe!" PRONTOS, com esta arrumou comigo, porque a fulana devia ter quase a mesma idade que eu, mas achou que eu tinha ar de menino, e o meu ego exultou de felicidade.

Tudo boa gente.

Escusado será dizer que obviamente havia vários indivíduos para quem a vida é madrasta, entre os quais um desgraçado que vive com 180 euros mensais de apoio social, 60 anos ou mais, coxo mas sem papas na língua, que tirou partido da verve e da lata de "pintas marialva" e monopolizou a cena de princípio ao fim, contando a sua história desde tenra infância até aos dias de hoje, sempre com apartes e sempre na 1ª pessoa - Eu isto, eu aquilo, e isto é uma grande porcaria. "Tou inscrito há canos e agora que não me dá jeitinho nenhum, chamam-me para aprender coisas que não me servem para nada. Sim, tenho portátel mas não funciona e vou trazê-lo para o setôr ver que raio o bicho tem..." Pérolas, verdadeiras pérolas!

Os despojos do dia...

Portanto, absorvo diariamente ensinamentos vários com o objectivo de me formar sobre uma matéria para a qual não tenho o mínimo interesse porque domino, e partilho com os meus colegas da vida airada experiências preciosas, que tal como eles, não percebo "para que raio me servem". Hilariante!

No fim desta sessão de apresentação não pude evitar sentir-me um privilegiado em todos os aspectos. Faço parte de uma pequena elite de uns milhares, cujos pais nos deram a chance de irmos mais longe: estudámos, viajámos, trabalhámos em empresas e participámos em projectos que nos proporcionaram experiências diversas, alargando-nos os horizontes.

Senti que vivo num mundo aparte do qual a maioria deste país ficou à margem, foi excluída pela falácia da igualdade de oportunidades e pela ilusão do acesso fácil ao conforto e ao sucesso. A quimera terminou para quase todos, mas esta maioria da qual "sou vizinha" continuará a estar e a ser excluída, nas próximas décadas, do acesso a esse conforto, a esse sucesso e ao saber, a que têm tanto direito como os outros. A diferença é que, apesar do confronto diário com essa realidade abrupta, os seus protestos de nada lhes servem, tal como de pouco nos serve o curso de formação, inútil porque desajustado, mas que iremos concluir com sucesso e louvor, exibindo orgulhosos o respectivo certificado, que atestará, sobretudo, a nossa infinitamente estúpida capacidade de aceitação de tudo o que não nos interessa.

À saída, eu, João, profissional de marketing desempregado, olhei à minha volta e engoli o enjôo: de nada me servira o saber e experiência acumulados porque era tão náufrago quanto os outros, e estava igualmente ávido de uma tábua de salvação a que me agarrar com unhas e dentes, na esperança de ainda poder safar-me e chegar a bom porto.

Fechei os olhos por segundos e imaginei-me noutro lugar, tentando esquecer a profunda tristeza que me invadira ao deparar-me com este "tesourinho deprimente", um pequenino retrato do pobre país que somos após 40 anos de democracia, pelo qual TODOS SOMOS RESPONSAVEIS.

Quanto ao curso, tenho ainda a esperança de poder aprender alguma coisa, seja o que for.

Haja saúde.

Até breve."