quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Guião de filme à Fellini



Vida de cão...moderninho

Imaginem uma família feliz, que na véspera comemora o 16º aniversário da filha. Jantar melhorado, tudo o que a princesa gosta, e à volta da mesa, Pai, Mãe, Filha e Cadela regalam-se com um belo fondue e uma tarte fantástica de leite condensado à sobremesa (a receita não faz parte do Guião).

A noite passa e amanhece um novo dia.
O Pai está cansado e põe o despertador para 1 hora mais tarde do que o habitual.
A Filha levanta-se com as galinhas, às 07h da matina, vá-se lá saber porquê, já que a escola fica a 5m e as aulas só começam às 8:20h.
Depois de se arranjar, toda apinocada e vestida como se fosse verão, a Filha vai à cozinha fingir que toma o pequeno-almoço. Aproveita e vê TV, uma série qualquer para totós que estão acordados às 7:30h da matina a verem séries para totós, como ela.


Lá fora chove. De repente, a Filha apercebe-se que são 7:50h! Poça, é tardíssimo para sair para a escola. Como mal comeu, bora preparar um lanche para meio da manhã, e cheia de pressa, para esperar ao frio e à chuva pelos amigos, entra de rompante na cozinha. Os gestos são bruscos, está desatinada. Pega na pera, volta-se para agarrar o sumo e zás...entorna a panela de óleo do fondue.

Há óleo por todo o lado! Quase parece bruxaria mas felizmente não se sujou.
Vai à procura do rolo de papel mas...bolas,  acabou. Vai à dispensa e saca os guardanapos de papel, que espalha à balda por cima das poças e espirros de óleo, e esfrega que esfrega para absorver. Leva 5m nesta operação de "limpeza relâmpago".


Olha para o relógio e pensa: já chega, ninguém vai dar por nada. Pensando bem, como o chão está um bocadito escorregadio, vou deixar um bilhete à Mãe. Talvez na casa de banho porque assim, quando se levantar, vê logo a mensagem:"Mãe, entornei o óleo do fondue mas já limpei. Bjo."



A Filha sai para a escola enervada mas o ar frio acalma-a.  
Em casa, a cadela acorda com sede e uma pontinha de fome. Levanta-se da cama, olha para os donos e vê que ainda dormem. Não faz mal, pensa para consigo, vou beber água e também já volto para a minha caminha quentinha.
Entra na cozinha e...snif, snif! Que é isto, o chão está escorregadio...mas cheira bem! Vê uma pocinha de uma coisa que parece água...será? Não será? Água não é com certeza, mas nada como experimentar. E lá vai ela, lambendo as pocinhas que encontra à volta do fogão. Quando acaba o servicinho de limpeza, suspira: uuhhhmmm, que pena, era saboroso. Mas ainda bem que acabou porque já estava a ficar enjoada. Nada como umas trincas na ração e uns golos de água pura. E agora, caminha aí vou eu!

Toca o despertador às 08h e o Pai levanta-se a resmungar: tou podre de sono, dormia mais um bocadinho, mas a maldita reunião das 09h...Em passo acelerado mas trôpego, dirige-se para a cozinha para ligar o esquentador. Espreita a sala e pensa: a miúda já deu de frosques. Gostava de ser mosca para saber qual é a pressa. Dá 2 passos na direção da cozinha, decidido a despachar-se rapidinho, e catrapum, foge-lhe o chão por baixo dos pés, uma perna para cada lado, procura apoio na parede e cai de costas batendo com a cabeça no chão. Geme, geme e pragueja.

A Mãe dormita, quentinha mas ouve a resmunguice e pensa: bolas, tão cedo e já a refilar! Vira-se para o outro lado, com um sorrisinho ao canto dos lábios: vantagens do desemprego, poder dormir até mais tarde. Tem pena do marido e da filha mas é a vidinha, e tempos houve, anos a fio, em que era a 1ª a saltar da cama.

Acorda estremunhada. Alguém lhe toca no ombro e diz: entornaste óleo ontem à noite? Eu? Claro que não! Pois então a filha fez das dela e para não variar, fingiu que limpou. Dei um malho que me ia partindo todo! Aflita, pergunta: magoaste-te? Sim, mas já passou. Sou rijo!

Ela suspira e diz: ok, já me levanto e lavo o chão com água a ferver e detergente. Deixa estar, diz ele. Tem tempo. É o que ela quer ouvir e volta-se para o outro lado a pensar: diabo da miúda, nem com 16 anos deixa de fazer disparates. Logo conversamos.

O Pai sai, depois de tomar o pequeno-almoço.

A Mãe acorda de súbito com um ruído esquisito: que raio é isto? Olha à volta e vê a cadela ao lado da cama a tremer. Bichinha, que se passa? A cadela vomita e ela grita: NÃO, AQUI NÃO! Salta da cama, agarra na bicha pela coleira e leva-a para a cozinha....e sem tempo para reagir, sente o chão a escorregar e estatela-se no meio da cozinha, arrastando a cadela consigo. Esta 
geme e vomita de novo. A Mãe assusta-se e diz: espera, bichinha, vamos beber água. Estás mal disposta? Bebe água que passa. Mas quanto mais água bebe, mais vomita e não passa!

No veterinário o diagnóstico é simples: a cadela comeu óleo em excesso que lhe fez mal. Há que purgar, fazer uma lavagem ao estômago... Jesus Cristo e agora?


2 horas depois, de regresso a casa, a cadela acalmou, e a Mãe limpa finalmente o chão com água a ferver e detergente. Duas, três vezes porque não há meio de fazer desaparecer a gordura, que resiste, qual fina camada protectora, indiferente à utilidade da mesma.

18h, a Filha chega a casa e pergunta de imediato: Mãe, viu o meu bilhete desta manhã, sobre o óleo do fondue? A Mãe faz um trejeito irónico e responde: eu não, mas parece que o Pai viu! A Filha olha-a intrigada, e súbitamente pálida pergunta: e então? Então nada, responde a Mãe, pergunta ao teu Pai quando ele chegar!
A Filha suspira: ok, já sei que vou ouvir das boas! Vai ter com a cadela, agarra-se a ela e diz pesarosa: minha bichinha, ninguém me compreende como tu! Dá beijinho à tua mana, dá! 



1 comentário:

  1. TATIANA, ESCREVE UM LIVRO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Aguentei a respiração até ao fim, com medo que alguma coisa (mais) grave tivesse acontecido... e depois lá soltei a respiração....de alivio.
    Beijinhos muito grandes e parabéns atrasados à tua Pati :)

    ResponderEliminar