quinta-feira, 7 de março de 2013

Zacatraz! O grito da tribo.



 

Orgulho e preconceito

Domingo, 3 de Março, a família madrugou, saltando da cama às 6.30h da matina para se preparar para um passeio especial a Lisboa. Um dos membros da família ia participar num evento de grande importância pessoal, e quando assim é, o resto da família adere, numa lógica de Um por Todos e Todos por Um!
 
Este é também o lema do Colégio Militar, do qual o meu marido é ex-aluno. Em quase duas décadas de vida partilhada, apenas fui, há vários anos, assistir a uma cerimónia no Largo da Luz, no início de uma abertura solene do ano lectivo. Confesso que não me deixou, então, grande registo na memória, mas a "aura" do Colégio sempre me intrigou, porque anos a fio senti a sua força e o seu apelo, dentro e fora de casa.
 
Não sou filha de militares mas sempre vivi perto deles: sou bisneta de um Coronel de Cavalaria, sobrinha de um oficial ex-Comando, nora de um Almirante, e esta proximidade marca, mesmo para quem nunca partilhou de "teses" militaristas, pelo contrário.
 
Desta vez, porém, decidi aderir ao chamamento, mais para satisfazer a curiosidade e para tentar compreender, ao vivo, o que é isso de pertencer a uma "tribo". Que melhor pretexto do que o aniversário de uma Instituição que comemora os seus 210 anos de existência, agora ameaçada por cortes orçamentais de vulto, que também chegaram às Forças Armadas! Senti, pela primeira vez a força do apelo, despoletado por carta, mail, sms, telefonemas e que teve como objectivo, apelar à participação massiva no evento, para mostrar a importância que esta instituição tem numa parte da sociedade Portuguesa.
 
O encontro, no Marquês de Pombal, começou morno. Era cedo, 8h30m da manhã, e apenas se viam alguns grupinhos de 3, 4 pessoas espalhados no semi-circulo das traseiras da estátua, que madrugadoras esperavam por algo de maior impacto. Pensei para comigo, "frouxa iniciativa, o pessoal comodista prefere dormir, num Domingo frio e cinzento, do que solidarizar-se por outros valores mais altos." 
 
Uma hora depois, pelas 9h30m, o cenário mudara consideravelmente. A meia lua enchera-se com os alunos, com idades entre os 10 e os 17 anos, que marcavam presença com os seus uniformes impecáveis; viam-se ex-alunos de todas as idades, de octogenários a recém saídos do Colégio, identificados com os pins da barretina na lapela; os familiares, tal  como eu, a minha sogra e a minha filha, lá estavamos em profusão, e ouvia-se o brúáaaa da pequena multidão, que saira de casa à última hora, mas muito a tempo de participar no início da cerimónia. 
 
Nessa altura já me sentia empolgada: "a malta finalmente aparecera", e a festa prometia. A chegada da Escolta a Cavalo acentuou essa mudança de humor, cerca de uma vintena dos melhores alunos de equitação dos 3 últimos anos, rapazes entre os 15 e os 17, mostravam-se garbosos, muito direitos nas garupas das suas montadas, flâmulas, lanças e espadas em punho, conscientes do impacto que causavam em todos os presentes. 
 
Às 10h em ponto começou a cerimónia com a homenagem do Colégio aos ex-alunos. Depois, uma voz de comando incitou ao GRITO DA TRIBO: "ZACATRÁZ, ZACATRÁZ, ZACATRÁZ!", que ecoou pelas fachadas dos prédios em volta, provocando-me uma estranha sensação, e me deixou absolutamente silenciosa, quase temerosa, pelo impacto das vozes em uníssono!
 
Seguiu-se, de imediato, o hino do Colégio, cuja letra desconhecia por completo, mas surpreendeu-me, de novo, a adesão massiva. Por fim, cantou-se o hino nacional, e eu, que não o cantava em público, alto e bom som, há longos anos, confesso que me senti bastante comovida. 
 
Depois, abriram-se alas e começou o desfile a contornar a Estátua do Marquês de Pombal e a descer a Avenida da Liberdade. Surpreendente foi ainda o cordão que se formou, as pessoas a avançarem e a acompanharem a marcha da 1ª companhia, a dos miúdos de 10 anos, depois a da 2ª, da 3ª e da 4ª companhia, a dos mais velhos, formada pelos alunos que frequentam o 11º ano, sempre ao som de gritos repetidos, constantes de ZACATRÁZ, ZACATRÁZ.
 
Por fim, a Escolta a Cavalo fechava o desfile, imponente, poderosa, orgulhosa, bela representante desta Instituição que comemorou 2 séculos e 10 anos!
 
Tudo terminou no Rossio, com a chegada da banda do Exército, no Largo da igreja de S. Domingos, onde se juntou a multidão, VERDADEIRA MULTIDÃO, que veio a pé, numa festa e alegria esfusiantes, pelos seus filhos, pelos seus netos, por si próprios e pela juventude já distante.
 
A festa para os ex-alunos prolongou-se dia fora, terminando em jantar no Colégio, num menu simples: caldo-verde, o célebre "amarelo" - roupa velha feita com carne estufada, batata frita às rodelas e ovos batidos a envolver, considerada verdadeira iguaria, difícil de reproduzir em casa, por mais que se tente - e arroz doce, tão compacto que dá para atirar à parede. MAS ELES ADORAM!
 
Não pretendo fazer aqui a apologia do Colégio Militar, mas o facto é que esta instituição faz parte integrante da nossa sociedade há 200 anos, tal como West Point nos Estados Unidos, o Sistema de Colégios Militares no Brasil, a École Militaire em França e ainda a Royal Military Academy em Sandhurst, Reino Unido.
 
Este é um colégio privado, como tantos outros, com a diferença de educar os seus alunos em ambiente militar. Tento vencer o meu preconceito, o da maioria de nós, que no pós 25 de Abril e até hoje adquiriu anti-corpos a este ambiente, com a pouca ou frágil acção do próprio colégio, que não soube adaptar a sua comunicação ao longo dos últimos anos, ao ponto de se limitar a assistir a situações polémicas, negativas e mediáticas, sem dar qualquer resposta convincente às mesmas, INCAPAZ DE VEÍCULAR A MENSAGEM SIMPLES DO QUE FAZ PELOS JOVENS QUE O FREQUENTAM, E QUE DELE SE ORGULHAM para o resto das suas vidas!
 
O colégio tem hoje um regime de internato para aqueles que assim o decidem, e um regime de semi-internato para quem tem a "sorte" de ter os pais a viverem perto, e isto faz toda a diferença, por comparação com o modelo seguido durante décadas, em que só havia a possibilidade de internato, com saída ao final da manhã de sábado, depois das aulas e do almoço, com retorno ao domingo ao final da tarde. 
 
Sendo um colégio privado, não é caro, ao contrário do que a maioria pensa, nem exclusivo para uma elite, a dos que podem pagar! As propinas incluem alimentação, 5 refeições ao dia, e não menos importante, uma série de actividades como: Equitação, Esgrima, Atletismo, Natação e Ginástica. É famosa a classe especial de ginástica desportiva do Colégio, conhecida pela alcunha de "Os gafanhotos".
 
Para além disso, e tratando-se de um colégio militar, é dada Instrução Militar, com aprendizagem do manuseio de armas (aqui as Mães ficam com os cabelos em pé), mapas cartográficos, orientação e técnicas básicas de sobrevivência.
 
Na voz de um deles, o testemunho é o de que "o Colégio é uma elite, sim, mas à saída, não à chegada! Qualquer um que tenha boa capacidade física e mental (há exames para entrar), e cujos pais possam pagar as referidas propinas (as quais são inferiores a muitos outros colégios privados), pode frequentar o Colégio". 
 
Conheço pessoalmente alguns dos jovens alunos, são da geração da minha filha, e estão em vias de terminar o seu curso de escolaridade obrigatória. Como em qualquer escola, há excelentes alunos, bons alunos e alunos médios, mas NÃO HÁ MAUS ALUNOS, porque o nível de exigência desta Instituição tal não permite, havendo desde sempre um sistema de méritos e deméritos, que se traduzem na atribuição de medalhas de Aptidão Literária e de Aptidão Física. Há quem as tenha todas - bastava ver o orgulho com que vários dos alunos, no domingo passado, exibiam essa colecção de medalhas ao peito - outros apenas têm algumas e muitos outros, nenhuma, caso daqueles que não atingem os parâmetros mínimos para se qualificarem para esse prémio de MELHORES ENTRE IGUAIS!
 
Ao longo de décadas, o Colégio tem provado a excelente qualidade dos seus conteúdos curriculares e programáticos, ao preparar jovens para as mais diversas profissões, que ambicionam por muito mais, e que raramente querem seguir uma carreira militar, antes valorizam a experiência do Colégio, a ideia do "Um por Todos e Todos por Um", numa aprendizagem de partilhas, de camaradagem, de cumplicidades e proteção entre pares, que perdura pela vida fora. A TRIBO NO SEU MELHOR!
 
Então, porque olhamos, quase sempre, para o Colégio Militar como uma instituição a abater, como sendo "uma aberração", como não havendo espaço para este tipo de ensino, quando na realidade a maioria dos rapazes que o frequentam já não são filhos de militares, mas filhos de civis, de várias proveniências dentro do País e muitos, cada vez mais, dos PALOP. 
 
Nenhuma instituição está isenta de fragilidades e de defeitos, mas o facto é que "...claramente as virtudes inculcadas pelo Colégio os suplantam, e em larguíssima escala! E com benefício de toda a sociedade, pois a maioria dos alunos escolhe a vida civil."
 
A Democracia é um sistema político que permite o convívio e a proliferação de várias realidades, algumas nos antípodas da maioria consensual, e aceita-as como válidas e contributivas para a harmonia do todo social.
 


Porquê então deitar fora 210 anos de experiência feita, e de um valor que se renova a cada geração que passa pelo Colégio Militar? Olhemos para os que orgulhosamente gritam bem alto a origem e proveniência da sua formação, e entendamos que não se tratam de "freaks, aliens", cultores de um estilo de vida "fascista e fascizante com saudosismo do passado".
 
Este pensamento é "demodé", está "out", e só perdura porque o PRECONCEITO vive e alimenta-se da IGNORÂNCIA e da incapacidade de aceitar a diferença!  
 
"Depois de lá ter estado 7 anos (agora 8), sim, concordo, do Colégio sai uma ELITE!  Mas uma Elite não de dinheiro...mas de Valores." (sic)


1 comentário:

  1. Nunca fui mto à bola com militares! Pôr-se uma criança com 7 anos de idade no Colégio Militar, para aprender o que é o Regime Militar, marca!

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